A escolha da Passarola deve-se à sua alta carga simbólica, representativa dos mais caros valores saramaguianos, entre os quais destaca-se a união fraterna. No contexto do romance, a construção daquela máquina voadora – um feito que desafiaria a lei da gravidade – só pode chegar a bom termo pela união dos esforços de três figuras humanas que, apesar de muito diferentes umas das outras, têm uma amizade a toda prova. Juntos, Bartolomeu de Gusmão, Baltazar e Blimunda conseguem ultrapassar limites impostos pela natureza, transfigurando a realidade.
A obra de Saramago como um todo pode ser vista como a interpelação de um amigo; instiga-nos a com ele romper todo tipo de amarra que nos prende a realidades históricas e sociais mesquinhas, violentas, injustas. Um belo e necessário voo.
